Roupinhas de Bebé





A pele dos seus dedos era quase tão macia como o algodão das roupinhas de bebé, que com muito carinho, guardava numa gaveta da cómoda, previamente destinada para o efeito. Eram roupinhas que via em lojas e pelas quais se apaixonava. Estavam ali por certo mais do que aquilo que um bebé precisaria.
Depois de as comprar, regressava a casa, e sempre com muito cuidado, lavava-as, estendia-as, passava-as a ferro e guardava. A cómoda estava no outro quarto do T2 que não era o seu. Um quarto vazio. Para além das roupinhas muitos eram os brinquedos que também estavam ali.
Se pelas roupas preferia as de bebé, quanto aos brinquedos preferia as bonecas, com seus vestidinhos em tom pastel e rendas, que tantas vezes encantavam as meninas em idade da escola primária.
Nunca tinha tido filhos. A sua vida foi de solidão: filha única, perdeu os pais cedo, os relacionamentos amorosos seguiam-se em frustração. Pouco contacto tinha com outros familiares.
Quando naquele quarto as roupas e as bonecas eram demais do que aquilo que podia guardar, colocava-as em sacos, bem dobradinhas, com um ou dois sabonetes lá dentro para não perderem o cheiro a lavado, e entregava-as em organizações de solidariedade social.

Sem comentários:

Enviar um comentário