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A literatura fez sempre parte da minha vida, como acredito que aconteça à maioria dos que gostam de escrever. Desde que me lembro de mim que me vejo sempre com um livro à mão, fosse um da Anita quando era muito pequena, como outro qualquer quando aprendi a ler decentemente. Brincava pouco na rua, e por isso o meu tempo era gasto a ler, e porque não existiam Fnacs nem outras que tais, socorria-me do que havia em casa. Por isso, era muito nova quando contactei com os clássicos, e lia-os com o mesmo prazer – embora me lembre de não entender tudo – com que lia Os Cinco.
Sempre escrevi qualquer coisinha, um conto ou outro na adolescência, e uns poemas, mas levei muito tempo até sentir que talvez tivesse a capacidade para conduzir uma história até ao seu desfecho. Já era adulta quando me atirei ao meu primeiro romance, de fantasia, que foi levado a bom porto e testado pelo meu primeiro leitor, que na altura tinha uns dezassete anos, lia muitíssimo, e adorou. Depois disso, foi ver-me escrever, sempre dentro do género. O meu original favorito está entre esse conjunto que continua na gaveta, chama-se A Grande Mão e não perco a esperança de que um dia veja a luz do dia.
Alma Rebelde foi uma surpresa para mim a todos os níveis. Foi o meu primero romance de época – e não histórico, não sou historiadora nem tenho pretensão disso – e a minha primeira história de amor, a primeira feminina e a primeira sem nenhum elemento de fantasia ou fantástico. Foi com muita relutância que a depositei nas mãos de alguém, para uma beta-reading, e com tremenda satisfação que recebi reações fantásticas de amigas e conhecidas. Coincidiu mais ou menos com altura em que decidi que era capaz de lidar com as esperas e as recusas, e peguei em dois originais e enviei-os para meia dúzia de editoras, sem grande critério quanto ao que destinava a cada uma. Alma Rebelde foi um deles.
Recebi algumas recusas frustrantes, sobretudo porque ter a impressão de que o original nem tinha sido lido. Mais frustantes foram os que olharam para o meu nome, uma desconhecida, e nem sequer responderam. Mas a Porto Editora cumpriu o que anunciava, leu o texto de uma ponta à outra e respondeu dentro de um prazo razoável. Pediu um encontro, sem compromisso, que aconteceu na Feira do Livro de... 2010. Depois, uma espera de meses enquanto, suponho, o livro era avaliado por outros departamentos, outras pessoas.
A minha alegria quando recebi a aprovação! Não há descrição. Contive-me, mesmo assim, mesmo depois da assinatura de um contrato, só me deixei festejar mais de dois anos depois do início do processo, no dia em que os livros cá chegaram a casa, e eu disse para mim própria: está mesmo a acontecer! E festejei no dia do lançamento em que, apesar da chuva torrencial, tinha “sala cheia”. Ou tenda, vá.
Acaba aqui? Nah! Para uma autora desconhecida, o processo é difícil. Tudo é difícil. Lidar com a ansiedade das opiniões, que desejo boas, mesmo sabendo que o meu livro não é para prémios nem elogios da crítica tradicional. Lidar com a divulgação, tão necessária, mas em geral pouca para um desconhecido, apesar dos esforços da editora. Lidar com o desejo de voltar a publicar, porque tenho mais histórias prontas e outras a caminho, sem saber se o sucesso ou fracasso deste livro me vai abrir portas ou fechá-las de vez. É uma montanha russa, nuns dias está.se no topo, noutros a cair a pique e a perguntar-nos: mas porque é que eu me fui meter nisto? Para depois treparmos outra vez. .
Concordo plenamente. E se tudo correr bem, torço por isso, um dia ainda se vai rir de todas estas emoções.
ResponderEliminarJá agora, aproveito para anunciar que, provavelmente em julho, sairá o meu romance "O Fotógrafo da Madeira", com a chancela da Oficina do Livro, obra vencedora do Prémio João Gaspar Simões/2010 (Câmara Municipal da Figueira da Foz).
ABC
Vou anotar! Não se esqueça de nos ir lembrando no seu blog!
ResponderEliminarEu própria ainda não comentei! Que vergonha...
ResponderEliminarPois é Carla, o teu esforço foi finalmente recompensado, não te ponhas a pensar coisas negativas (do tipo nunca mais publicar)! Afasta as energias negativas.
Admiro-te muito. Tens a tua profissão, és mãe e ainda escreves. Eu vivo no medo de não conseguir compatibilizar as coisas...