Assuntos de Escrita - Investir na Escrita por Marcelina Gama Leandro

Assuntos de Escrita é uma rubrica deste blog que conta com a colaboração de outro blogger para nos falar de um assunto relacionado com a escrita. Este mês foi convidada Marcelina Gama Leandro, autora do blog: Fénix. Podem também visitar a sua página no Goodreads.

***

Investir na Escrita


         A pedido da Olinda Gil, irei deixar aqui algumas breves reflexões sobre a escrita e da experiência de publicar. Começo por fazer um breve resumo do meu percurso literário, se tal se pode chamar aos breves momentos que tive no mundo da escrita.
          Comecei a escrever em 2009 com o único intuito de postar num fórum de livros do qual fazia parte, e onde existia uma secção dedicada à escrita. Não havia cá ambições de publicar em livro, era algo que fazia porque me dava prazer. Comecei a escrever umas vinhetas e uns minicontos com muitas mortes e sangue e a postar no fórum. Divertia-me a temática, a reacção que a leitura provocava nos leitores e continuei. Surgiu na altura um concurso que aceitava contos, desenhos e poesia e que anunciava publicação em papel. Concorri e fui seleccionada e independentemente da problemática que envolveu o livro, gostei e foi a minha primeira publicação. Como na altura a editora não ofereceu um exemplar a cada autor, a crítica foi feroz e a editora foi categorizada como Vanity. Sinceramente foi-me quase indiferente, e sim comprei um exemplar, mas fui publicada e fiquei bem classificada, e isso incentivou-me a continuar a escrever.
         Como consequência escrevi bastante, os primeiros textos intragáveis como é óbvio, depois aprendi a rescrever e fui melhorando. Como em tudo, o treino faz a diferença, podemos já ter predisposição para alguma das “artes”, mas como costumo dizer aos meus filhos, para sermos muito bons em algo, teremos de trabalhar muito e treinar mais ainda, seja para ser tenista, jogador de polo-aquático (no caso dos meus dois rebentos), quer para escrever bons contos.
         Continuei a escrever e foi crescendo então a vontade de voltar a publicar em papel em vez de deixar tudo “na gaveta”. A minha primeira tentativa foi direccionada para concursos de Câmaras, ainda tentei três ou quatro, mas os entraves são muitos, primeiro gastamos dinheiro no envio dos exemplares e na impressão das cópias, já que nenhuma aceita submissão via email. Depois os tempos de espera são enormes, os temas demasiado vagos, o júri demasiado heterogéneo, e depois os prémios em dinheiro já estão maioritariamente “entregues”. Como precisava de praticar e queria feedback, e como neste tipo de concursos, nunca ouviria uma palavra critica sobre o trabalho e como a qualidade ainda não estava no ponto necessário, repensei as minhas opções. Por isso, a fase seguinte foi procurar alternativas, por esta altura começaram a surgir fanzines e revistas em Portugal à procura de submissões. Tentei as que encontrei na net e tive algum sucesso e também muitos emails não respondidos.
         Podem-se já convencer de uma coisa, pior que um “não”, é mesmo a indiferença. E foi o que eu encontrei mais, não respondem. Nem para dizer que receberam, nem para dizer que não estão a aceitar submissões ou que não querem contos não solicitados. Nada.
         Mesmo assim, o importante é não parar. Não parar de escrever e de tentar. Existem inúmeras alternativas e cada “aspirante” a escritor deverá decidir qual a melhor para si. É possível criar o próprio blog e publicar os trabalhos na net, é possível criar ebooks (pdf, mobi e epub) e pôr em sites (pagos e não pagos), há concursos que aceitam submissões para antologias de contos, para publicar em papel ou em ebook. Há editoras a receber submissões. Há também opções para quem quiser pagar a sua edição, tudo é aceitável, desde que cada autor saiba o que vai fazer. É preciso ter muito cuidado com qualquer uma das opções. Em TODAS há hipóteses de correr mal. Publicar online trás o perigo de roubarem os vossos trabalhos ou de ninguém ler o que tentam publicitar com tanto carinho. Nos concursos podem ser publicados e nunca receberem o que vos prometeram. Podem também publicar numa edição com pouco mérito e de ficarem conotados a um mau trabalho. Se pagarem pela vossa edição, podem acabar por ter nas mãos um trabalho rude, com má capa ou má impressão e sem a devida edição, podem nunca ser distribuídos em lojas, ou de receberem em casa 400 exemplares e não terem ninguém que vos ajude nas vendas. Enfim, como em tudo informação há e muita é só preciso investigar.
         Publicar é como investir num negócio (sem a parte de poderem ficar ricos), e para que o negócio corra bem, é preciso pensar antes de agir.
  • Tem um bom produto → Tem um bom romance/conto para enviar para algum lado?
  • Precisão de fazer uma pesquisa de mercado → Quais as editoras existentes no mercado? Quais as que publicam o vosso género de literatura? Aceitam submissões de trabalhos?
  • Quanto dinheiro tem para investir no vosso negócio → Muito, pouco ou nenhum?
  • Posso investir dinheiro? → Posso pagar uma revisão, tradução ou uma capa?
  • Quanto tempo pode “perder”? → Blog, facebook, twitter? Publicitação, divulgação, entrevistas, emails, etc.
  • Como publicitar? Onde?
  • Quem vai participar/ajudar?

As dúvidas e dificuldades existirão em todo o vosso percurso, o que vos posso “aconselhar” é: não tenham pressa, nem se precipitem. Apenas tem uma oportunidade para criarem uma primeira boa impressão. Se o vosso primeiro trabalho for mau, as dificuldades irão duplicar ou triplicar.
Boa sorte e boa escrita.
 

4 comentários:

  1. Obrigada Olinda pelo convite, espero que gostem do pequeno texto.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. De nada! Gostei muito do teu texto! Concordo muito com o que dizes: muito trabalho, aprender a ouvir nãos, e seja qual for o modo como publicarmos, sabermos no que nos estamos a meter! ;)

      Eliminar
  2. Muito bom conselho,sobretudo para quem está a dar os primeiros passos no mundo da Escrita.
    No entanto,num país que não investe na Cultura e na Educação nunca será muito fácil singrar ,ser reconhecido ou mesmo apenas falado.É lamentável! Não de investe nos jovens ou emergentes talentos que terão de ,por si só,tentarem chegar um pouco mais além.

    ResponderEliminar
  3. Mais um bom artigo de uma escritora que admiro. A Marcelina escreve belíssimos contos!
    Identifiquei-me bastante com este tema, especialmente na parte de «pior que um “não”, é mesmo a indiferença». Farto-me de dizer isto e sei que é o que mais acontece em Portugal, infelizmente.
    É verdade que hoje em dia existem mais opções de publicação que nunca, mas como diz a Marcelina, é preciso ter cuidado com o que se escolhe. Pensar bem, falar com quem já arriscou e descobrir o que funcionará para nós.

    Olinda, continua com a rubrica, que é sempre muito intressante.

    ResponderEliminar