Memórias Parasitas


Uma mulher está a trabalhar no seu jardim. Aproveita as primeiras horas da manhã antes do dia começar a aquecer. Com muita paciência, poda devagar as roseiras. Tens umas luvas grossas calçadas, para evitar magoar as mãos. Limpa o suor da testa: o dia está demasiado quente. Com o mesmo gesto afasta as memórias de uma vida que não a sua. As memórias de outra mulher.

Sabia que não eram memórias de vidas passadas. Havia datas, na década de 1970. Ela própria nasceram em 1958, por isso era impossível que essas memórias fosse de outra encarnação. Teriam passado de alguém que tinha falecido, para si? Mas como? Tinha pesquisado e não havia registo sobre tal fenómeno. Não passara por nada traumático, tinha a certeza que nunca se cruzara com ela na vida. Como podia isso ter acontecido. Que o seu corpo tivesse possuído pelo espírito dessa mulher era algo que também afastava pelas mesmas razões, e por outra ainda: não a sentia. Sabia que eram só memórias e nenhum espírito em si.

A mulher era o oposto de si: uma artista de circo aventureira e viajada. Não eram memórias más, mas... não eram suas. Sempre que surgiam sentia-as como uma mosca que não nos larga e nos enerva.

Respirou fundo. Afastou essas memórias e os seus pensamentos. Voltou a podar as rosas, e nesse momento, voltou a ser apenas ela e as rosas.

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