Assuntos de Escrita - Publicar fora de Portugal, por Valentina Silva Ferreira

Assuntos de Escrita é uma rubrica deste blog que conta com a colaboração de um escritor para nos falar de um assunto relacionado com a escrita. Este mês foi convidada Valentina Silva Ferreira e podem encontrá-la no seguinte endereço: http://valentinasilvaferreira.webnode.pt/


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Publicar Fora de Portugal

Olá, leitores do Rabiscos, Rascunhos e Limitada. Queria, antes de começar, agradecer à Olinda o convite que me fez para partilhar convosco a minha – pouca – experiência no mundo das letras.
Sou portuguesa, nascida na Ilha da Madeira. Escrevi o primeiro romance aos 19 anos, quando estudava em Coimbra e as saudades do ilhéu não me deixavam ser muito feliz. Dei-lhe o nome de Distúrbio, imprimi-o e tentei algumas editoras portuguesas. Recebi um não – o tema não se adequava ao género que publicavam – e alguns sins: em troco de um pagamento. Ora eu, estudante do terceiro ano de Direito, que contava todos os cêntimos, achei um absurdo aquilo que me pediam e guardei as cópias numa gaveta. Descobri os concursos literários. Fui participando e não ganhando. Descobri que escrever apenas quando a inspiração aparecia também não era muito recomendável porque, confesso, era rara a sua visita. A escrita tornou-se quase diária. Se já achava que lia muito, em comparação com os meus amigos, passei a ler ainda mais. Aliei-me às gramáticas, ao treino e à persistência. Em 2010, enviei um conto para a antiga Magazine do Portal NetMadeira. Aceitaram publicar, sem data definida, os contos que eu fosse enviando. Pouco tempo depois, arrisquei-me na Infektion Magazine e tive o privilégio de criar a rubrica Estórias que matam!, para onde escrevi, mensalmente, durante um ano. A revista JA da Associação Académica da Universidade da Madeira também aceitou a minha participação na coluna Estórias do Arco-da-velha. No início de 2011, numa busca aborrecida pela internet, conheci a editora brasileira Estronho. O site pareceu-me apelativo e vi que tinham uma antologia com submissões abertas a autores, independentemente da experiência,de qualquer parte do mundo. Intitulava-se Cursed City. Escrevi o conto, sem qualquer pretensão – já era perita em participar em tudo quanto era concurso e ganhar apenas juízo – e enviei. Semanas mais tarde, recebi um e-mail a dizer que tinha sido selecionada. Escusado será dizer que dancei pela casa toda. Eu ia ser publicada! No Brasil! A Estronho, por essa altura, abriu algumas antologias e eu tentei todas. Consegui entrar em muitas delas. Por causa disso, o Marcelo Amado, editor da Estronho, perguntou-me se eu não teria algum romance escrito. Fui à busca do Distúrbio, reli-o e, apesar de saber que já tinha amadurecido alguma coisa na escrita – o tal juízo que ganhei nos mil concursos não premiados – achei que o livro merecia ser publicado. E lá foi ele, para o outro lado do Atlântico. A partir daí as coisas aconteceram naturalmente. Apaixonei-me pelo trabalho da Editora, pela forma como eles pediam e queriam o meu contributo na formação do livro, pelo modo como me tratavam e como eu via que eles cuidavam da minha cria. Quando pensava sobre o assunto, sobre publicar no Brasil e não em Portugal, sobre ter muitos mais leitores num país que não era meu, nada me fazia mais sentido do que ser assim. Tinha que ser assim! Não me via a publicar de outra forma, com outras pessoas. Chamem-no o que quiserem: destino, energias, sorte. Eu apenas sei que não seria melhor de outra maneira. Entretanto, fui publicada em antologias de outras editoras brasileiras e lancei o segundo romance – A Morte é uma Serial Killer – claro está, pela Estronho. Ah, e já consegui levar prémios em concursos literários, não só no Brasil, como em Portugal e em Paris. Já por cá, para divulgação do meu trabalho mas, principalmente, para incentivo da leitura e escrita, mantenho o Projeto Escrita Fantástica que leva a escolas, instituições, centros comunitários, entre outros, o contacto com a Literatura Fantástica através de mostras de livros e na construção de uma história fantástica, em conjunto, mediante a visualização de imagens. Por outro lado, até ao final de Novembro, estão abertas as submissões de contos, exclusivamente para autores portugueses, para a antologia Insonho – Durma bem!, pela Editora Estronho, com a minha organização. Participem!
Esta novela luso-brasileira serviu para aprender que com trabalho, dedicação, sacrifício, responsabilidade e amor pelo que se faz, consegue-se sempre, de uma forma ou de outra, atingir os objetivos a que nos propomos. Não é em Portugal? Que seja no Brasil. Não é no Brasil? Que seja na China. Não é na China? Que seja em Marte. Não é em Marte? Que… nha, vocês já entenderam J
Um beijinho. Boas escritas e leituras.

Valentina Silva Ferreira.

4 comentários:

  1. Não podia deixar de vir aqui e ler o teu testemunho. Em frente Valentina! E continua com essa teimosia...Gostei de ler

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    1. Obrigada, Fernanda. Um beijinho cheio de amizade.

      Valentina.

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  2. É impressionante ver como as editoras no Brasil são mais dinâmicas. Antologias, por cá, só nas vanities, o que é igual a que ninguém as leia (nem os editores!)

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  3. Valentina, a tua persistência e talento compensaram. Muitos parabéns pelo sucesso que tens tido e que, certamente, continuarás a ter.
    Infelizmente concordo um pouco com a Olinda, quando diz as editoras por cá não apostam em antologias, e raramente em novos talentos, que não arriscam. Enfim ... também será do mercado, acredito, mas não deixa de ser triste.

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