Robot Doméstico


Abriu o armário onde estava guardado o robot doméstico e acariciou a sua chapa velha. Era muito diferente do que tinha em casa, na cidade: um topo de gama recente. Aquele era do tempo da sua avó, demasiado lento para as exigências dos dias de hoje, raramente se avariava, e quando isso acontecia tinha sempre arranjo. Aliás, como acontecia sempre com objectos velhos.
Mas na casa de férias perto da praia, pouca diferença fazia se o robot doméstico era velho e lento. Porque o tempo ali parecia passar de outro modo. Os dias eram mais longos, talvez porque neles houvesse tempo para o descanso, a brincadeira e o contemplar do horizonte.
O velho robot fazia-lhe lembrar o jipe da bisavó, que continuava guardado na garagem da casa da praia como uma preciosidade: muito pó em cima, teias de aranha, ferrugem. Talvez só lhe faltasse os torrões de lama seca agarrados à chapa.
Lembrou-se então dessa mulher que nunca conhecera, a sua bisavó, e a razão porque chegara ela ali, àquela casa de praia.
Os filhos criados e a recente viuvez afastaram-na da cidade. Viajou muito no jipe, e por fim comprou aquela casa para passar o resto dos seus dias. Fechou o jipe na garagem e ali se manteve, longe da civilização.
As suas histórias eram tão idênticas!
Fechou o armário onde se guardava o velho robot, sem sequer ter verificado a sua bateria, decidida a não o utilizar. Assim como assim já era quase hora do almoço e ele não teria tempo de cozinhar. Ela própria faria uma sandes para o almoço, com os mantimentos que comprara num supermercado não muito longe dali. E, depois, quando chegasse o jantar, cozinharia pela primeira vez na vida. Havia muitos livros da sua bisvó na casa de praia, algum deles seria de culinária. Ou então encontraria receitas em velhas páginas web que ninguém sabe como apagar.

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