A espada do vampiro Yoru

Mal a noite tinha começado quando Vladimir se deslocou até ao hospital para muitas das suas visitas a Charles. Esperou discretamente, como quem espera por uma consulta, pela sua vez, e entrou no consultório.
- Tenho material.
- Xi, hoje é um dia mau... O Merhet está por cá... Pode aguardar para amanhã?
- Posso: mas sabes que quando mais dias tem o sangue menos bem sabe. Tu é que ficas a perder com a mercadoria.
- Mas está bem acondicionado?
- Sim, não te preocupes.
- Então amanhã assim que o sol se pôr passo pelo teu apartamento, antes de vir para o Hospital. Hoje não tenho hipótese de sair daqui.
Vladimir saíu do consultório, descontraído. O Charles que demorasse o tempo que quisesse, a ele não lhe fazia diferença. Afinal, a vida de vampiro traficante de sangue dos recantos mais exóticos do planeta para pitéus gourmet de vampiros que achavam que tinham status quo requeria uma certa dose de paciência.
Quando estava no lóbi de saída do Hospital encontrou Merhet, vampiro seu conhecido de há muito, patrocinador daquele Hospital e traficante de antiguidades egípcias. O crime, sem dúvida, era uma boa forma de viver para um vampiro. Ou isso ou ter de trabalhar para alguém como Mereht. Vladimir preferia o crime e a sua independência económica.
- Vladimir, não gosto que venhas fazer negócios ao meu Hospital. Aqui só quero negócios meus.
- Esteja descansado! - Vladimir só queria sair dali depressa, evitar aquela conversa e morder a primeira jovem incauta que encontrasse numa esquina da noite.
Foi então que reparou numa vampira chinesa, que acompanhava Merhet. De bata branca, certamente trabalhava ali.
- É Yoru, o nosso novo dentista. - Anunciou Merhet. Afinal era um homem.
- Mas ele está armado! - Escandalizou-se Vladimir. Apesar de uma das formas de se matar vampiros ser a decapitação da cabeça, havia uma norma de conduta que levava a que a maioria dos vampiros não andasse armado. Só alguns, por mera tradição, usavam espadas. Era o caso de Vladimir. - Mas quem é ele para andar armado?
- Vladimir, não esteja preocupado com Yoru. Ele é um lendário lutador japonês da época de revolução.
- Um Samurai?
- Não, um ronin. - Respondeu o Japonês com os olhos em brasa - Eu era filho de camponeses, nunca poderia ser um Samurai. - E a sua mão acariciou o cabo da espada de uma forma que Vladimir não gostou nada.
- Não admito tamanho desafio na minha presença! - Bramiu Vladimir enquanto segurava a sua espada medieval, pesada e a encaminhava na direcção de Yoru. Se a intenção era magoar o japonês ou simplesmente assustá-lo não saberemos, porque Yoru deslocou-se mais rapidamente do que a visão dos vampiros permitia ver. Num instante retirou da baínha a sua espada leve, de gume invertido, e fez voar a espada de Vladimir. Este caíu, com a força do impacto. Yoru encostou a espada ao pescoço de Vladimir. Os seus olhos flamejavam.
- Eu depressa acabo com isto. - disse, enquanto virou a espada para o seu lado afiado.
- Bem, vamos lá acabar com a brincadeira. - Interveio Merhet, encostando as suas mãos aos ombros de Yoru. O japonês relaxou e guardou a sua espada. - Certamente que precisam de se conhecer melhor. Vladimir, deves ter qualquer coisa boa para nos servir na tua casa, não? Talvez sangue com sakê?
- Sim, por acaso tenho. - Não lhe apetecia disfarçar que não era traficante de sangue com um carregamento de sangue acabado de chegar.
- Podes-nos trazer? Só para conversarmos um pouco melhor?
Não lhe bastava toda aquela confusão e ainda tinha de oferecer sangue àquele japonês descontrolado.

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