"Sudoeste" c/ fotos



«Cresci na companhia de minha mãe, uma irmã mais velha e um irmão mais novo. Nunca conheci o meu pai. Contaram-me as pessoas na aldeia, com maldade, ser um vagabundo que ali pousara apenas para me conceber, partindo em seguida, sem qualquer interesse em mim.
A minha mãe nada me contou a respeito dele. Em terra de praia havia muita gente só de passagem. Terá sido uma dessas pessoas. Ou então terá sido um marinheiro. Em criança, gostava de imaginar que ele era um marinheiro, em aventuras constantes no mar, na solidão e sofrimento, não imaginando sequer que eu existia e que poderia estar a pensar nele. Sempre quis acreditar que não fosse o pai dos meus irmãos, não havendo qualquer razão para que julgasse isso. Agradava-me. Nunca o conheci, mas sabia, e ficava feliz, por imaginar que podia não o partilhar com eles.»
Olinda P. Gil, "Sudoeste"
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