Podia ser só o amor

Ilustração de Cláudia Banza

Podia ser só o amor, ou podia não ser. Poderia ser só um sonho. Poderia ser apenas um homem e uma mulher que se amassem, mas havia algo de impossível nisto tudo, tendo em conta que o cabelo dela parecia flutuar.
Não era um pormenor de somenos, pois os cabelos não flutuam. Era sem dúvida a prova da sua loucura. Mais uma. Como os cavalos alados que se encontravam a pastar junto ao parque das crianças. Sabia que aquela mulher de cabelo flutuante não existia, que era fruto da sua mente louca. Mas no fundo não queria saber disso para nada. Essa informação só servia para que soubesse que não poderia falar daquela mulher a ninguém. Assim como não podia falar dos cavalos alados ou dos pássaros mordedores. (Também havia uns pássaros mordedores). Ou então ainda poderia ir parar ao hospício.
E no hospício sabia que aquela mulher de cabelo flutuante nunca iria aparecer.
Interessava-lhe apenas quando a encontrava. Os seus lábios delicados que deixava beijar. Do seu olhar meigo, do seu corpo tenro. Poucas palavras trocavam, mas sabia que se amavam. E havia muitas carícias, e muito sexo. Em todos os lugares. Já tinha sido em sua casa, mas também no cinema, no comboio, no elevador...
Que interessava agora que estivesse louco e que a mulher de cabelos flutuantes fizesse parte da sua demência? O que interessava mesmo era que se amavam.

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