"Sudoeste": opinião e vídeo de Rita Inzaghi

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Opinião editada na página da Coolbooks.

Quando morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar. Sophia de Mello Breyner Andresen. 

Não foi à beira-mar que li o Sudoeste da Olinda P. Gil. No entanto, foi a voz do mar que me levou de Oeiras à mesma casa, à mesma quinta, à mesma praia, à mesma falésia das personagens centrais dos três pequenos contos que compõem este livro. Percorri este Sudoeste no tempo de um banho de mar e saí de lá a tremer de frio, mas revigorada. Porque nesse espelho de água vi o reflexo do meu amor mais puro e ingénuo, da nostalgia dos encontros amorosos que não vivi, da coragem de assumir que no amor, como na vida, o está certo é aquilo que queremos, e não um ideal que buscamos ou das escolhas que esperam que façamos.

Um escrita despretensiosa e despojada cuja simplicidade contrasta com a de estórias complexas, porque amar é difícil - e não só na acepção romântica do verbo. Estórias com as quais, enquanto amantes, pais, irmãos ou filhos, encontramos facilmente uma identificação. Na rebeldia e revolta de Ema. Na culpa e impotência de Psyché. No chamamento do mundo do solitário de rosto trigueiro sentado na areia, abraçado aos joelhos (O Mar e as suas Brumas), no chamamento de Eros (Eros e Psyché), ou no de Dulce (Aniversário).

Saio da água e abraço-me a este excerto com que me identifiquei particularmente, mais uma vez porque espelha a minha forma de viver a paixão... no limite: «A meta terminava no caminho da falésia. Por isso, pensei, ao me apaixonar, que já não havia mais para onde ir, como se os caminhos terminassem quando o nosso desejo é perdermo-nos.»

Parabéns, Olinda Pina Gil! Estava bandeira vermelha, mas mergulhei na mesma. E fez-me bem. É esse também o poder dos livros. Obrigada.

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