Um Sobreiro na Minha Rua




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Passeava pela rua, nos primeiros dias de estadia no novo sítio: exploração de terrenos. Novos caminhos. Novas vistas. Onde é a mercearia? E a farmácia? Qual o caminho mais perto? Ali é o cinema? Ah, uma escola!
As crianças balburdiavam no recreio, jeito de crianças que brincam felizes. Aquele burburinho saudável que nos recorda momentos felizes da infância. Ia a olhar para elas, revendo-me em cada gesto quinze anos antes, quando sinto que os meus pés pisam algo duro e escorregadio. Pequeno, jeito de baga. Olho para o chão: qual o meu espanto quando vejo montes de bolotas, ainda verdes, talvez caídas pelo vento, espalhadas pelo chão. Elas só poderiam vir de um sítio.
Olhei para cima e vi qual a sombra que me amainava o espírito. Os braços enormes de um sobreiro protegiam o meu frágil ser alentejano em diáspora, qual ventre da terra mãe. Bendita arvore sagrada.
Ali, na minha rua, a fazer-me lembrar que no mundo há mais que a realidade, os horários e o estudo. Há momentos de sonho, surpresa, em que se ouve a infância a invadir-nos, debaixo de um sobreiro, viajando por momentos no tempo e no espaço, voltando de novo para o pátio da escola que foi a minha.

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