A Rua

Preferia nunca passar por aquela rua, mesmo que passar por lá fosse o caminho mais perto. Não se importava de andar mais, de dar uma volta muito grande para chegar ao seu destino. Mas passar por aquela rua estava totalmente fora de questão.
Não gostava de nenhuma pessoa daquela rua. Eram todas pessoas falsas, que um dia pareciam muito simpáticas, mas que no outro estavam dispostas a destruir a vida de alguém. Especialmente as mulheres, que gostavam de falar umas com as outras em voz baixa, mas sempre a dizer muito mal de outras pessoas. Os homens e rapazes, tornados matrofões por aquelas mulheres, agiam como malfeitores, nunca se podendo confiar neles. Se fossem objectos desapareciam, se fossem pessoas eram espancadas.
Uma amiga sua casara com um homem daqueles, e nunca a foi visitar. Vi-a às vezes na praça, e achava sempre que ela estava muito magrinha. Passava fome, pois o marido deveria gastar tudo em bebida. Nunca percebera porque a amiga nunca dera razão às suas palavras, e tivera que casar com um homem daquela rua. Com tão bons rapazes que havia na aldeia. Moços rectos, trabalhadores, respeitadores. Que até os senhores doutores cumprimentavam.
Nunca iria passar por aquela rua, nem mesmo quando fosse velhinha, e aquele caminho permitir que se cansasse menos.
Em resposta ao desafio de escrita colocado pela Gabi, do Redonda.

3 comentários:

  1. Gostei muito do texto (e gostei da palavra "matrofões" que não conhecia)e a achar o máximo por ter suscitado que fosse escrito.
    Obrigada pela resposta ao desafio :)
    Posso transcrevê-lo para o dona-redonda, com um link para aqui?

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  2. Podes transcrever e colocar o link à vontade!

    Matrofões é uma palavra que a minha avó usa. Havia uma para colocar em vez de malfeitores (um dia lembrar-me-ei).

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