O Vizinho Marroquino

imagem daqui
- Pensei que já tinhas morrido – quando o dono do café disse isto, toda a gente na esplanada riu e comentou a falta de oportunidade da expressão. Olhei a quem tinha sido dito tão infelizes palavras, e vi um senhor de idade, com a pele enrugada e muito curtida do sol. Vestia umas calças de tecido cinzento, enroladas, e uma camisa axadrezada em tons de castanho, com o botão do umbigo desabotoado e uma fralda de fora. Tomei o senhor por um qualquer homem do campo, provavelmente pastor que apanha muitos dias de sol.
Na esplanada um jovem marroquino vendia as suas mercadorias a um grupo de jovens portugueses já toldados pela cerveja. Tentavam enganar o marroquino, mas ele parecia despreocupados e apreciador do convívio. O velho senhor, que tomei por um pastor, fez-lhe sinal, mas o jovem não fez muito caso, e continuou a sorrir e a conversar.
Olhei melhor e reparei que trazia calçadas umas sandálias de couro, coloridas. Nunca um português dos campos, pastor dos montes, traria aquilo calçado.
Poderia ser? Era capaz de ver no jovem marroquino o miúdo que há uns anos vendia mercadorias na rua e não ia à escola. Mas era incapaz de reconhecer no tão envelhecido homem, o marroquino que, antes de regressar a Marrocos, se tinha ido despedir de todos os vizinhos da rua.

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