4ª opinião de "Contos Breves"

Desta vez foi a vez de sair a opinião no blog "Furnished by Shade":


 
Contos Breves 

Olinda P. Gil
Ebook, aprox. 80 páginas

    Neste opúsculo estão reunidas pequenas narrativas inconscientes: digo isto porque na altura em que foram redigidas era tão jovem que nem sabia que estava a escrever um tipo específico de conto. O conjunto daqui resultante é uma selecção e revisão de textos criados entre 1999 e 2007, período que corresponde, aproximadamente, à minha colaboração do DN Jovem (suplemento do Diário de Notícias direccionado para os jovens). Muitos dos textos aqui presentes foram lá publicados. Contudo, estão também incluídos alguns que estavam inacabados, tendo sido agora trabalhados.



(...)

Hoje trago-vos um livro de Olinda Gil, que tive o privilégio de ler como Pre Advanced Reader. Escolhi-o porque, em primeiro lugar, não estava familiarizada com o estilo da autora, e era uma óptima oportunidade para o fazer; e em segundo, porque a ideia de "narrativas inconscientes" me pareceu bastante intrigante.

E... deixem-me só deixar uma nota prévia antes de passarmos à opinião. Normalmente, divido estes posts em quatro pontos - Plot, Personagens, Setting e Estilo de escrita -, mas devido à estrutura deste livro e dos 29 contos que o compõem, não me sinto muito capaz de respeitar essa estrutura neste caso específico.

Posto isto, em frente, camaradas. Gostei deste livro - não daquela forma efusiva que me dá vontade de escrever uma nota ao autor e atirar o livro à cara de toda a gente que conheço só mesmo para me assegurar que o lêem... mas ainda assim. Este é um livro "pacífico", acima de tudo. Lê-se muito bem, e com praticamente 30 contos, Olinda Gil consegue cobrir uma enorme variedade de temas (das histórias de amor ao 25 de Abril) com um estilo de escrita que, noventa por cento das vezes, flui de forma bastante subtil. Houve alguns momentos em que tropecei na escrita, por determinadas passagens não me fazerem grande sentido, mas no geral, achei que a escrita fazia o que lhe era exigido.

Ou seja, para não me perder em devaneios, este não é um livro que se leia pelo estilo de escrita, porque o estilo de escrita funciona como uma ferramenta para a história - ao invés de ser a história a funcionar como uma desculpa para grandes inovações estilísticas.

Posto isto, falei da variedade de temas, mas notam-se alguns paralelismos entre os contos aqui presentes: o amor, o abandono, a morte, e personagens que, no geral, são pessoas perfeitamente normais a quem acontecem coisas ligeiramente menos normais. De todos os contos, os meus favoritos foram, de longe, A Rua do Memorial Perdido e Conto Quase Erótico. No outro extremo, posso dizer que fiquei bastante... perturbada com o conto O Mestre de Ioga, porque todos sabemos que sou sensível a tudo o que envolva violações e a sua "desculpabilização". Não faço com isto qualquer julgamento da própria autora, mas quando a própria narrativa me apresenta passagens como "hoje sou casado com ela e tento fazer dela uma mulher melhor" e "porque lhe destruí a vida no passado, e tenho agora a missão de emendar o erro", oh não, não vou fazer boa cara. Claro que é possível argumentar que a vítima até aceitou tudo isto de bom grado, o casamento e a nobre missão do seu violador, mas hey, nada disso está escrito, e sendo apenas humana, só posso avaliar aquilo que efectivamente está.

Três estrelas, e recomendo a quem esteja à procura de alguma coisa ligeiramente mais light do que, oh, não sei, The Ground Beneath Her Feet. Mas não, a sério, se narrativas curtas fazem o vosso estilo, dêem uma vista de olhos, porque de certeza que há aqui alguma ideal para vocês.

Sem comentários:

Enviar um comentário