Reencontrar pessoas





Ainda estamos em época de Festas, e queria-vos contar como este ano o Natal me chegou mais cedo.

Uma destas manhãs, no trabalho, em que faço o mesmo que em todas as minhas manhãs (ligar o computador, fazer chá, arrumar a papelada que me colocaram na secretária para ir tratar, ver os mails), verifico a recepção de um e-mail, direccionado de um P., cujo assunto era algo como: "És mesmo tu?"
Nem foi preciso abrir o e-mail e verificar o sobrenome do emissor para eu me ter apercebido, naquele momento, de quem era aquela mensagem. E foi já de olhos húmidos, a fazer um esforço tremendo para evitar que as lágrimas me caíssem em pleno escritório, e evitar perguntas desnecessárias por parte dos colegas, que li a mensagem.
P. foi meu colega da escola primária, coleguinha de carteira e de brincadeiras depois da escola, uma vez que ele era meu vizinho. Brincámos muitas vezes na rua em que ele vivia, com a irmã dele e outros miúdos que por ali andavam. Lembro-me de P. como bom rapazinho, bom aluno a matemática, sorriso na cara e caracóis negros. Trocámos milhentos e-mails, como se tivesse sido ontem que, depois de terminado o 3º ano ele tivesse abalado com a família, e como se nunca mais o tivesse visto. Não me tinha esquecido, conseguiu encontrar-me. Eu também nunca o tinha esquecido. O facebook agora permite que continuemos em contacto. Pude ver as fotografias, continua com a mesma cara mas num corpo crescido e é agora pai de uma menina que parece a versão dele feminina quando tinha aquela idade.
Semanas mais tarde volta a acontecer-me o mesmo. Desta feita, pelo facebook, recebo uma mensagem de F., colega do básico a quem eu também tinha perdido o rasto. Lembro-me quando a família dela partiu daqui, no final do nosso 8º ano, depois de um acidente trágico que retirara a vida a uma das suas irmãs. Ainda lhe enviei cartas, lembro-me que não a queria perder assim como tinha perdido o P., mas as cartas não tiveram retorno. F. tinha-se mudado outra vez, e assim perdi o contacto da menina gordinha e sorridente que fazia parte do nosso grupo de amigas. Na festa do final desse ano, eu e N. tocámos e dedicámo-lhes a nossas músicas.
F. tinha visto alguém partilhar uma publicação minha e assim me encontrou o rasto. Falámos, vimos as nossas fotografias. E foi com um nó na garganta que vejo uma F. renovada, linda e magra, muito parecida com a irmã que faleceu.
Há já muitos anos que verifiquei que a minha vida é comandada por uma qualquer força de retorno, no que toca a pessoas. Têm sido muitas as pessoas que tenho voltado a reecontrar e a reatar relações. E como se não bastasse isso, ainda haveria nisto tudo mais uma coincidência, para provar novamente como o nosso mundo é pequenino: afinal P. e F. conhecem-se. Andaram na mesma escola do ensino secundário.

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