Tinha entrado no lar de 3ª idade naquele dia. Antes não queria, há uns tempos atrás. Quando ainda não precisava de ajuda para se levantar de uma cadeira. E outras coisas mais, que não valia a pena estar para a ali a enumerar maleitas. Agora conformou-se com a ida para o lar. Afinal a sua vida era do quarto da cama para a sala, levada por alguém que lhe escolhia o canal de televisão. A casa era pequena, e, em comparação com o espaço amplo do lar apercebeu-se que, afinal, tinha estado presa na sua própria casa. Havia quantas semanas que não via a rua? Tinha sido num dia chuvoso, em que a levaram ao médico. Há quanto tempo que não podia apanhar uma laranja de uma árvore e saboreá-la deixando escorrer o sumo dos lábios?
Naquela noite, depois do jantar, levaram-na para a varanda. Puseram-lhe uma manta sobre o corpo e pode apreciar os cheiros do jardim. Lá dentro, colegas seus (afinal conhecia-os a todos) cantavam cantigas dos seus tempos de juventude. Depois voltaram a trazê-la para dentro. Ia ver televisão, era hora das notícias, trar-lhe-iam chá e bolachas. Sentia-se a fazer serão. Há quantos meses se deitava às seis da tarde? Durante quantos meses ficara a dormir até às 11h00 porque ninguém se atrevia a acordá-la, a incomodá-la. Sabia que às vezes se portava como uma criança, e que ia ter regras ali. Mas acabou por almoçar e jantar bem, ao contrário do que costumava fazer. Afinal, o lar não era tão mau quanto pensava.
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