Azul-Petróleo

Fotografia de Joel Gomes

Anoitecia frio e a falta de luz deveria aumentar o desconforto. As pontas dos dedos não aqueciam por muito que as esfregasse com força uma na outra, e, em alternativa as fizesse entrar nos bolsos das calças, muito justas ao corpo.
Eram os primeiros dias de Inverno e anoitecia cedo. Não gostava da ausência da luz solar, das sombras frias das árvores desnudas, do cansaço precoce, das noites de sono longo. Mas mesmo com todos esses "nãos" deixava-se sempre encantar no azul-petróleo, cor dominante nesses dias. Aparecia no céu, logo nos últimos dias de verão, ao anoitecer. Aos poucos observava-a e via-a tornar-se mais permanente. Não estava só no céu que via das janelas da sua casa. Aparecia mais cedo, quando fazia o caminho de regresso e passava pela velha ponte que encurtava o percurso. Era inverno e o azul-petróleo via-se agora no fim do dia que se escondia no horizonte, para além das casas. Via-se no reflexo do rio, escuro de inverno e escuro da noite.
Estava frio e sem saber porquê aquela cor dava-lhe conforto. Como a luz dos lampiões que o faziam lembrar-se de candeeiros acesos perto do sofá, sobre pequenas mesinhas de chá, ou os reflexos das labaredas da lareira.
Fazia aquele caminho todos os dias e havia modo de, mesmo assim, se continuar a surpreender. E a saber que continuava vivo.

2 comentários:

  1. O 'mesmo caminho' é de facto surpreendente. Claro que somos nós que pomos algo de novo no 'mesmo caminho', mas pronto... ;)

    ResponderEliminar