Sweet Porcelain

imagem daqui: http://www.hickerphoto.com/picture/czechoslovakian-handmade-dolls-17513.htm

Eram para mais de vinte bonecas, sentadas na flanela que tapava a bancada. Os olhos brilhantes, as faces brancas e rosadas. As boquinhas pequeninas. A suavidade da porcelana. Os seus vestidos rendilhados e delicados.
Havia-as louras, ruivas. Umas de cabelinho escuro, com franja à Beatriz Costa. Havia-as com totós, tranças, caracóis, lacinhos. Havia-as com doces olhos negros, com expressivos olhos azuis, com atraentes olhos verdes. Havia-as sérias, chorosas, bochechudas, carinhosas, desdentadas como pequenos bebés.
A sua bancada encimava o final da feira. As pessoas olharam encantadas. Os homens sorriam, as crianças não se aproximavam, envergonhadas com tanta beleza.
As velhotas iam ter com elas, sonhadoras das bonecas que nunca tiveram. Acariciavam-lhes os cabelos, ajeitavam-lhes os tecidos.
- Quanto custa uma boneca?
É cara, talvez. Os olhos perdem-se nas necessidades mais básicas. Tecido branco para lençóis. O marido tinha a serra velha: era capaz de aparecer para a comprar, com mais umas árvores de fruto e uns pés de cebolinho. Os baldes e as bacias de plástico até não estavam caros. Mas ainda faltava a fruta, os queijos.
Os transeuntes seguem e passam durante o dia. No final, quando as barracas foram arrumadas, apenas algumas bonecas tinham sido vendidas. O suficiente para o feirante fazer o dia.
Uma senhora que a comprara para a neta. Uma menina que abrira o mealheiro. O coleccionador de bonecas de porcelana. O outro, de objectos curiosos. A estrangeira que nunca tinha estado numa feira.
Amanhã, as bonecas seguirão para outro local, encantar outros olhares.

Sem comentários:

Enviar um comentário