A Prostituta

daqui
Numa pequena aldeia, simples nas suas gentes e viveres, numa casinha pequena, humilde e húmida, vivia uma prostituta. Quem a encontrasse na rua, e não a conhecesse, nunca saberia que ela era prostituta (mas na aldeia toda a gente sabia): vestia-se como as outras mulheres; as saias tapavam-lhe os joelhos e as meias tapavam-lhe os tornozelos; as camisas tapavam-lhe o pescoço e o lenço tapava-lhe o cabelo. Os seus olhos e a sua boca já tinham sido mais jovens e tinham agora uma vivacidade discreta, ocultada por um sorriso tímido. Levava um dia a dia igual ao das outras mulheres: arrumava a casa, cuidava da roupa, orientava o filho, ia à mercearia e ao mercado. Quando precisava, ia à farmácia ou à retrosaria. Gastava o menos possível, pois o dinheiro que ganhava não lhe permitia luxos. Não fosse à noite receber homens em casa, e a sua vida seria considerada honesta.
Alguns desses homens eram casados, mas na sua maioria eram solteiros e sozinhos, viajantes. Lá por vezes aparecia um homem da aldeia. Mas as más-línguas não falavam disso: ela nunca comentava o que fosse, e as vizinhas preferiam calar para acalmar a má fama do fundo da rua.
Algumas das suas vizinhas não lhe falavam nem olhavam para ela. Quando se cruzavam, ela continuava triste e resignada pela sua condição. Outras cumprimentavam-na, falavam com ela na mercearia, beijavam-na na igreja. Sim, ela ia à igreja como todas as mulheres da aldeia, mas não comungava.
Mas tirando os homens seus clientes, ninguém entrava na sua casa. Ninguém conhecia a sua intimidade. Não era dali, daquela aldeia. Não lhe conheciam a família, o pai do filho, nem sabiam de onde ela era. Muito menos sabiam como ela tinha ido parar àquela vida.

2 comentários:

  1. Devia ter uma vida bem dura e para o seu filho também devia ser complicado crescer naquela pequena aldeia.

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  2. Apesar de ser ficção, inspirei-me em duas ou três histórias reais que ouvi contar. Nem quero imaginar a dificuldade que seria a vida dessas pessoas...

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