retirado daqui |
Quando iniciei as minhas primeiras aventuras na escrita, lá para os idos de 1996/1997 escrevia uns diálogos muito secos, sem aquilo que eu chamo o "diz que disse". Era qualquer coisa como:
- Olá está tudo bem?
- Sim, está tudo, obrigada. E tu, como vais?
Depois lá me avisaram que não era muito correcto escrever assim, e que deveria dar indicações de que falas deveriam pertencer a cada personagem. Então lá comecei a introduzir o "diz que disse":
- Olá está tudo bem? - Disse o Manuel.
- Sim, está tudo, obrigada. E tu, como vais? - Disse o Ricardo.
Depois comecei a melhorar esta fórmula. Estas frases do "diz que disse" servem muito bem para colocar expressões dos personagens, sentimentos, gestos e por aí fora. E ainda há aquela questão de não utilizar só verbo dizer, como tão bem gostamos de ensinar aos meninos nas aulas de Português. Porque há outros verbos introdutores do diálogo: responder, gritar, sussurrar ... replicar... (entre tantos outros).
Mas ainda hoje o replicar me causa ânsias. A maior parte dos verbos introdutores do diálogo não são minimamente naturais (digam-me qual a naturalidade dos verbos "questionar" e "inquirir", por exemplo). Encontrar o verbo "replicar" num texto é sinal que desisto dele naquele preciso momento, mesmo que seja um texto meu dos meus idos.
Para dizer a verdade, também não considero o "diz que disse" natural. Não seria tudo mais natural como no teatro?
MANUEL - Olá está tudo bem?
RICARDO - Sim, está tudo, obrigada. E tu, como vais?
Esta conversa toda porquê?
Porque ultimamente, quando escrevo, não coloco na primeira versão o "diz que disse". Os diálogos saem muito mais naturais. Depois, quando começo a rever (e a primeira revisão é quase uma reescrita)lá introduzo as ditas indicações, forçosamente. Não gosto delas. Apetece-me aboli-las. E depois aturar as consequências e as reclamações dos leitores e escritores novecentistas que por aí andam e que às vezes me lêem.
Há um projecto, enfiado na gaveta logo às uns dez anos, que vai dar para eu fazer umas coisas assim...
Como leitor, não aprecio muito as indicações de fala. Cortam o ritmo, principalmente se forem aproveitadas para descrever emoções e acções.
ResponderEliminarMas também acho-as essenciais, portanto julgo que é uma questão de equilibrio.
Já me diverti a ler a textos com indicações inexistentes.
Alguém que pensa como eu, ehehhe!
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