O Diário

Rembrandt,
Portait of an Old Man in Red
O sótão era uma nuvem de pó sobre os móveis e velharias que durante décadas se acumulavam.
- Havia muitos anos que o avô não vinha cá – talvez por isso a porta que dava acesso ao sótão custasse a abrir, presa por uma argamassa construída pelos anos. Talvez por isso também em casa se acumulasse tralha inútil e inconcertável – os velhos não deitam nada fora.
No sótão as peças guardadas contavam a história de uma vida. Em vez de arrumar tudo em caixas para procurar um destino, os netos desarrumaram a vida guardada pelo avô. Mexiam com curiosidade cada objecto, tocavam-lhe com carinho.
- Olhem o que encontrei! – Gritou entusiasmado um dos netos. Os outros correram a rodeá-lo, curiosos sobre a nova relíquia a explorar.
Dentro de um grosso caderno envelhecido e empoeirado, de capa grossa de couro e de páginas com pontas dobradas, seguiam-se apontamentos datados, escritos pela letra do avô.
Finalmente puderam arrumar os pertences do velho homem, dividi-los entre eles e dar-lhes um destino com que todos concordassem. O diário foi o legado que decidiram conservar. Ao lê-lo, não esqueceriam o avô, e aquilo que ele tinha escolhido ser digno de contar, pertenceria à família para sempre.

3 comentários:

  1. A escrita é uma boa maneira de permanecer. Nunca morreremos de verdade se deixarmos algo de nós, nem que seja um caderno empoeirado numa caixa de um sótão esquecido.
    Gostei =). Bjinhos

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  2. Os sótãos são sempre lugares de recordações que nos levam a um estado de nostalgia que muitas vezes nos emocionam. São eles os guardiões da nossa história familiar. Está muito giro,parabéns

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  3. Lembrei-de dos sótãos, das recordações que eles conservam, da memória futura que é a escrita, e escrevi este textinho. Ainda bem que gostaram :D

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