Hikikomori

daqui:http://akashicrecords.wordpress.com/2011/01/02/welcome-to-the-nhk-review/


Divorciado, na casa dos quarenta anos, classe média alta. Ou pelo menos tinha sido, quando vivera com aquela que fora a sua esposa e trabalhara como técnico informático.
Agora vivia no Japão. Não tinham sido vicissitudes da vida que o levaram até lá. Nem sequer foram as vicissitudes que o levaram ao divórcio, ou o divórcio que o levara ao Japão. Tinham sido antes altos e baixos existentes entre o seu ego e alter ego que, em vez de melhorarem, pioravam com a idade. Os quarenta anos pareciam ter sido a gota de água.
Hikikomori,  ou fobia social, para nós. Vivia no seu apartamento apertado como um funil em Tóquio. Tinha ligação à internet, ia às redes sociais ver as publicações da ex-mulher. Havia uma japonesa, na casa dos sessenta anos, que lhe fazia os recados e lhe trazia do exterior tudo o que ele precisava. Se ela sabia alguma língua ocidental que ele soubesse, ou se ele sabia japonês, não é do nosso conhecimento. Mas havia entre eles alguma forma de entendimento.
Também não estamos informados de como foi ele parar ao Japão, ou como ganhava ele a vida. Sendo técnico informático imaginamos que viva dos dividendos de algum software que criou. Ou lhe saiu o dinheiro nalgum jogo ou lotaria. Sabemos só que está em Tóquio, a ver filmes antigos e a ler policiais publicados em colecções já extintas. E a viajar no Google Earth.
Quando chove vai para a varanda apanhar os pingos de chuva. Quando faz frio procura ali arrefecer as orelhas, e em dias de sol sintetiza vitamina D. E imagina os jardins japoneses repletos de amendoeiras.

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