Assuntos de Escrita - Entrevista com Samuel Pimenta

Samuel Pimenta é o autor das obras "O Relógio" e "Geo Metria". Foi recentemente indicado pela Literarte (Associação Internacional de Escritores e Artistas - Brasil) para receber a Comenda Luis Vaz de Camões. Também mantém um blog, organiza tertúlias literárias e aceitou gentilmente ser entrevistado para a nossa rubrica, Assuntos de Escrita.


Assuntos de Escrita (AE) -Verifiquei que no teu percurso literário já acumulaste uma série de prémios. Como foi que se deu o salto de escritor anónimo para escritor laureado?
Samuel Pimenta (SP) - Comecei desde cedo a ter algum reconhecimento pela minha escrita, o primeiro prémio foi num concurso regional, ainda não era um autor publicado, sequer. Mas o prémio que foi determinante para mim e que me ajudou a ganhar alguma projecção, embora já não fosse um autor anónimo, foi o Jovens Criadores, em 2012.

(AE) - A Comenda Luís Vaz de Camões que te vai ser entregue pela Literarte, não foi só pelos teus escritos, mas também pelo teu trabalho nas tertúlias literárias. Como começou esse teu percurso nas tertúlias?
(SP) - Comecei a organizar tertúlias quinzenais a 21 de Junho de 2012, em Lisboa, no Zazou Bazar & Café, ainda sob a gerência de Mónica Santos e Mónica Dias, criadoras do Zazou, de quem acabei por me tornar amigo. Saí precisamente um ano depois, quando a gerência mudou, e agora estou no Bar do Teatro Rápido mensalmente, além de outras tertúlias que organizo pontualmente por todo o país. A ideia de organizar estes encontros literários surgiu da necessidade que eu senti de partilhar os meus textos, bem como de proporcionar a oportunidade de outras pessoas partilharem os seus textos, num espaço que fosse informal e intimista. Tem corrido muito bem, até agora.

(AE) - Ultimamente tem saído nos media matéria sobre tertúlias literárias. Recentemente, as tuas tertúlias até foram faladas num jornal português. Parecem ser uma tendência. Porque achas que se está a revitalizar este modo de difundir a literatura?
(SP) - Penso que as tertúlias se estão a revitalizar, acima de tudo, porque são uma forma de humanizar a Literatura, torná-la vivível. Quem gosta de Literatura, certamente gostará de fazer parte da História da Literatura e participar em tertúlias é uma forma de integrar essa História, de contribuir para a sua evolução, em vez da sua cristalização. É uma forma de cidadania activa em prol da cultura de um país.

(AE) - Mesmo assim a poesia lê-se pouco. Porque será?
(SP) - Porque não há uma educação para a poesia, para a Arte. Muitas pessoas não lêem poesia porque dizem não conseguir decifrar o que o poeta quer dizer, pensam que ler poesia é conseguir decifrar a mensagem do poeta, como se fosse um jogo. Como outra obra de Arte, a poesia procura dialogar connosco, estabelecer uma conversa, seja pela mera contemplação ou pelo debate de conceitos. E isto não é ensinado nas escolas! Curioso é notar, nas tertúlias, por exemplo, pessoas adultas que não gostavam de ler poesia e que, perante o prazer de apreciar o poema transposto para a oralidade, através da leitura e discussão, começam a comprar livros de poesia.

(AE) -Do que li sobre ti houve algo que não consegui deslindar: qual a tua ligação a Moçambique?
(SP) - Essa questão deve estar relacionada com a homenagem que o Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora me fez no ano passado, na Fundação José Saramago, em que fui nomeado Sócio Honorário do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora. Essa homenagem veio no seguimento do trabalho de divulgação e de valorização da Lusofonia que tenho vindo a fazer com as tertúlias que organizo, onde também já recebi alguns escritores moçambicanos. Moçambique está ligado a mim por ambos integrarmos a Lusofonia, assim como estou ligado a Angola, Brasil, Timor ou Cabo Verde. Temos laços culturais que nos ligam, entre os quais se impõe a Língua que temos em comum.

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