"O verão não foi eterno, mas o calor de Eros parecia-o ser. Porém, eu andava estranha como nunca. Quando se tornou evidente que Ema existia dentro de mim, o seu olhar tomou ar de cinza cada vez que avistava o horizonte. Era constante o chamamento do mundo. A mente nublada e tempestuosa. Ema trouxera-lhe laços de sangue que o prendiam à minha quinta, à minha falésia e ao meu mar. Laços não desejados a enlaçarem-lhe o coração ao meu.
E entre a dúvida de ir e ficar, deixou-se estar.
E no dia em que Ema nasceu e ele pode tocar no seu corpo vermelho e dorido, o cinzento dos seus olhos abalou e o azul voltou. O desejo pelo desconhecido parecia ter-se ido, mas estava apenas adormecido. Adormecido pelo amor à filha.
O sol brilhou todo esse dia, mas, estranhamente, ao se pôr, surgiram umas nuvens repentinas e uma tempestade assolou o horizonte marítimo. Na costa não choveu, sentia-se, contudo, o frio e o barulho dos trovões que brilhavam no mar.
Quando o meu corpo recuperou e pude voltar a ser mulher para ele, pegamos na menina para lhe mostrarmos o mundo. Primeiro, demos-lhe a conhecer a quinta, todos os cantos, plantas e animais. Depois, fomos à falésia e elevámos o seu corpinho ao cheiro das marés. Fomos, por fim, à aldeia. Mostrar-lhe as casas, as pessoas, o porto, os turistas. Como se ela fosse uma princesa e fosse a nossa obrigação mostrá-la a tudo e todos.
Nos primeiros dias da sua existência deixei de ver todo o resto. Só via Ema. Deixei de pensar em todo o mais. Só pensava em Ema, nem mesmo em Eros. Mesmo a fazer amor o pensamento caía na menina e na estranha tempestade no dia do seu nascimento.
O tempo que passa e vai faz a normalidade regressar à vida. E a recordação da tempestade foi-se esvanecendo. Controlei o amor pela menina para me poder voltar a olhar ao espelho: para ver o meu porte de orgulho por ser mãe e por amar Eros."
E no dia em que Ema nasceu e ele pode tocar no seu corpo vermelho e dorido, o cinzento dos seus olhos abalou e o azul voltou. O desejo pelo desconhecido parecia ter-se ido, mas estava apenas adormecido. Adormecido pelo amor à filha.
O sol brilhou todo esse dia, mas, estranhamente, ao se pôr, surgiram umas nuvens repentinas e uma tempestade assolou o horizonte marítimo. Na costa não choveu, sentia-se, contudo, o frio e o barulho dos trovões que brilhavam no mar.
Quando o meu corpo recuperou e pude voltar a ser mulher para ele, pegamos na menina para lhe mostrarmos o mundo. Primeiro, demos-lhe a conhecer a quinta, todos os cantos, plantas e animais. Depois, fomos à falésia e elevámos o seu corpinho ao cheiro das marés. Fomos, por fim, à aldeia. Mostrar-lhe as casas, as pessoas, o porto, os turistas. Como se ela fosse uma princesa e fosse a nossa obrigação mostrá-la a tudo e todos.
Nos primeiros dias da sua existência deixei de ver todo o resto. Só via Ema. Deixei de pensar em todo o mais. Só pensava em Ema, nem mesmo em Eros. Mesmo a fazer amor o pensamento caía na menina e na estranha tempestade no dia do seu nascimento.
O tempo que passa e vai faz a normalidade regressar à vida. E a recordação da tempestade foi-se esvanecendo. Controlei o amor pela menina para me poder voltar a olhar ao espelho: para ver o meu porte de orgulho por ser mãe e por amar Eros."
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