Carla M. Soares é autora de Alma Rebelde e A Chama ao Vento. Escreve no blog Monster Blues. Aceitou gentilmente ser entrevistada para a nossa rubrica, Assuntos de Escrita.
1. Depois de um livro editado em papel, a edição de "A Chama ao Vento" em ebook é uma aventura e uma nova experiência. Como estás a vivenciar a situação?
Apostar no ebook depois de ter publicado em papel é sem dúvida uma aventura e uma nova experiência. Há cada vez mais gente a ler em ebook, o futuro passará sem dúvida por eles, não em substituição, mas a par do livro físico. Este livro, no panorâma dos ebooks da wook, onde é vendido, está a sair-se muito bem, esteve muito tempo nos tops e está muitíssimo bem colocado entre os ebooks de literatura. Isso não significa que seja uma opção simples porque, embora eu também leia bastante em ebook há já muito tempo e goste, como autora sinto falta do objecto que posso tocar, pode ser contemplado na livraria, assinado, oferecido, folheado, colocado na estante, sensação que já conheço e é incomparável. No entanto, acredito no projecto e estou certa de que, com o tempo, esta será uma fantástica aposta para leitores, editora e novos escritores.
2. Já passou algum tempo da edição de "Alma Rebelde". Continuas a receber feedback do livro? A edição de "A Chama ao Vento" trouxe novos leitores ao livro anterior?
Embora não possa estar certa disso, creio que sim, a publicação deste novo livro trouxe alguns leitores ao Alma, que é um livro já com mais de dois anos. Há algum tempo que não tinha feedback, e desde que o Chama saiu, tive mais algumas opiniões em blogues. Claro que ser livro do dia na Feira do Livro – nesse dia foram comprados todos os exemplares que a PE tinha levado – também terá conduzido a novos leitores, mas desses provavelmente não receberei opiniões... o que é pena. O livro continua, felizmente, a agradar, é o que vejo na generalidade das opiniões. Isso deixa-me contente.
3. És, de certo modo, presente nas redes sociais e comunicas muito com os teus leitores. Que vantagens/ desvantagens esta situação de trás?
Não sou, por natureza, uma pessoa que goste de se expôr, mas as redes sociais oferecem uma espécie de véu através do qual é muito mais fácil ser comunicativa. Acho importante alguma acessibilidade dos autores, que são, afinal, gente como os outros, vão ao supermercado e tudo, antes de se fecharem na sua torre de marfim para escrever dias a fio sem comer nem beber, porque se alimentam apenas de si próprios e de letras e belas imagens, ehehehe. A desvantagem é mesmo essa, estar mais exposta, e portanto ter todo o feedback ali mesmo, incluindo o negativo. Tenho ouvido algumas coisas de que não gostei, sobretudo no que diz respeito à publicação em ebook, de pessoas que até nem leram o livro. Outra desvantagem que me ocorre, mas não faz sentido, é ser levada menos a sério por causa da acessibilidade – a mania que o português tem de que quem é bom tem que estar na tal torre, ser até um nadinha arrogante. Felizmente há hoje muitos autores já reconhecidos que não pensam assim. A desvantagem é também uma vantagem – recebo muito feedback positivo, de forma muito imediata, e algum carinho e incentivo de quem tem gostado de me ler, muito importante quando se perde a força nesta batalha.
4. És professora de Português e de Inglês. A tua profissão relaciona-se, de algum modo, com a escrita?
Ter optado por essa formação, que incide em grande parte na literatura e cultura em ambas as línguas, mostra que houve sempre um amor à escrita, mas no dia a dia, o que a minha profissão faz é roubar-me quase todo o tempo que gostaria de dedicar à escrita ou à pesquisa, por vezes até ao fim de semana...
5. E, por fim, podes dar algum vislumbre sobre outros projectos?
Tenho um livro pronto... isto é, falta-lhe uma última revisão. Passa-se em 1892-93, no pós-Ultimato, e é bastante animado, diz quem leu. Aguarda decisões. Estou a rever um romance de fantasia que escrevi há muitos anos e provavelmente permanecerá para sempre na gaveta, mas ao qual gosto de regressar ciclicamente porque gosto muito dele. E comecei um trabalho outro romence, que avança devagar porque é mais difícil de escrever, localizei-o na sua maioria em Moçâmedes, terra onde nasci mas da qual não me recordo, o que faz com que esteja mais perto de mim e ao mesmo tempo muito longe. Está a ser difícil encontrar a medida certa neste texto...
Sem comentários:
Enviar um comentário