Agrilhoada

Ilustração de Ana C. Nunes

À noite, quando se deitava no escuro do seu quarto, sabia-se agrilhoada, apesar de não ter amarras visíveis. Apesar de não ter correntes nos pés, era assim que se sentia. Não tinha marido, não tinha pai, mas sentia que era  o poder masculino que a agrilhoava, exercido por homens e, inclusive, por outras mulheres. Cada sapato de salto alto era uma chicotada. Cada passagem de rímel pelos olhos era outra. Cada copo de wiskey que bebia, na sua casa, à noite. A face erguida, mesmo nos dias maus, o cansaço que sentia à noite.
Sentia-se louca por tudo isto, pelo preço que estava a pagar, nem sabia pelo quê.
A sua vontade era de correr sobre campos verdejantes, nua como uma selvagem, Mas não sabia o caminho para aquele local.

Sem comentários:

Enviar um comentário