O Anel de Noivado


imagem daqui: http://www.reception-wedding.com/wedding_rings.htm
Cliente – Olá muito bom dia!
Vendedor – Bom dia! Por acaso deseja alguma coisa?
Cliente – Desejo sim.
Vendedor – Sendo assim, pode dizer o que deseja?
Cliente – Gostava de ver um anel.
Vendedor – Só ver? Não pretende comprar ou alugar?
Cliente – Por acaso gostaria de ver um anel para comprar.
Vendedor – Mas, gostaria de ver, ou gostaria de comprar? É que aqui só vendemos ou alugamos anéis. Não mostramos!
Cliente – Gostaria de comprar.
Vendedor – E que anel gostaria de comprar? Um anel de diamantes? Um anel de ouro de lei?
Cliente – Pretendo comprar um anel de noivado.
Vendedor – De noivado? Para a mão ou para o pé?
Cliente – Para a mão, com certeza. Um anel de noivado tem de ser para a mão.
Vendedor – É que também vendemos anéis para os pés. E pulseiras para os tornozelos. E brincos para o umbigo.
Cliente – Mas eu pretendo um anel de noivado, para a mão direita!
Vendedor – Muito bem. Diga-me então, e para que dedo?
Cliente – Para que dedo?
Vendedor – Sim, para que dedo? Consoante o dedo, assim o tamanho.
Cliente – Não se preocupe, eu sei a medida. E é um anel para o dedo anelar.
Vendedor – Aguarde um momento, vou trazer alguns, para o senhor escolher.
(o Vendedor vai buscar um mostrador de anéis) Ora aqui está! Estes são os anéis de noivado que temos disponíveis.
Cliente – (olha atentamente para os anéis) Desculpe, mas não vou levar nenhum. Não são do agrado da minha noiva.
Vendedor – Ah, mas isso não importa! Eles são todos baratos!
Cliente – Não estou preocupado com o preço. Estou disposto a pagar muito dinheiro, desde que eu saiba que o anel vai ser do agrado da minha noiva.
Vendedor – Digo-lhe, devia levar um anel do seu agrado.
Cliente – Do meu agrado? Mas não é para mim…
Vendedor – Mas é você que vai oferecer! É isso que interessa. Veja lá se gosta de algum destes!
Cliente – Por acaso até há um ou dois que não me desagradam. Mas não são ao gosto dela.
Vendedor – Mas ela também tem a obrigação de lhe agradar. Se você lhe oferecer um anel que ela não goste, ela tem a obrigação de gostar desse anel.
Cliente – A minha noiva não é desse tipo de mulher. Ou gosta ou não gosta! Ela não finge.
Vendedor – E pretende casar com uma senhora assim?
Cliente – Claro, ela é verdadeiramente sincera.
Vendedor – Acredito. Mas uma esposa é melhor que seja mentirosa. Se ela arranjar um amante, conta-lhe logo!
Cliente – A sério? Mas eu não quero que ela me conte!
Vendedor – É o que lhe estou a dizer. Arranje uma noiva mentirosa. Uma sincera conta-lhe tudo, e depois você vê-se obrigado a divorciar-se.
Cliente – O senhor é capaz de ter razão… Um casamento com uma mulher sincera não é um casamento para a vida.
Vendedor – Já nenhum casamento é para a vida!
Cliente – Diga-me então, e que outros anéis me poderia vender?
Vendedor – Tenho ali uns anéis de curso, acho que são indicados para si.
Cliente – Acha? (amanha o colarinho vaidoso). Bem, um anel de curso sempre é para vida. Um anel de noivado já não.
Vendedor – Está a ver? O senhor sabe escolher! Tenho de várias qualidades, preços e feitios. Que prefere?
Cliente – Um dos caros e dos bons! Para não ficar desempregado logo a seguir.
Vendedor – (em segrego) Tenho ali uns excelentes! Emprego garantido. Até já vêm com diploma e tudo!
Cliente – A sério?! E quais são?
Vendedor – Tenho de engenheiro, de médico e de advogado. Mas de médico já só tenho um, e está pelos olhos da cara!
Cliente – Olhe… então talvez seja melhor um de engenheiro, sempre é capaz de ser mais discreto. Também não quero suscitar as invejas.
Vendedor – Acho que tem toda a razão! Os de engenheiro são excelentes! Vou já buscar um. Quere-lo numa caixa ou leva já na mão?
Cliente – Na mão! E levo o canudo debaixo do braço!

4 comentários:

  1. Faz-me lembrar um tal ex Primeiro Ministro... e cartas de condução na farinha "Amparo"... e escolas superiores a mais... e a futilidade da nossa sociedade, onde é preciso ter um canudo para ser "alguém", e poder trabalhar nas caixas de hipermercados!

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  2. O texto não foi escrito com a intenção de chegar a alguma pessoa em específico, ou algum grupo, mas sim criar uma situação de absurdo que tivesse algumas ligações com as referências dos leitores.
    Este texto foi resultado de um exercício, e não de uma crítica. De qualquer modo, obrigada pela vistia e pelo comentário. Para mim é também importante ficar a saber as leituras possíveis do que escrevo.

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  3. Como é fácil o "homem" deixar-se influenciar pela lábia de quem muito bem vende sem escrúpulos, podendo mesmo alterar a "sua" boa índole.

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  4. Mz, basta saber se ele teria mesmo boa índole...

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