A Carta Anónima no Cacifo

Ser um miúdo giro tinha as suas consequências na escola: não conseguir passar desapercebido entre as raparigas, que o abordavam constantemente através das mais variadas estratégias. Telefonavam-lhe, chamavam por ele nos corredores da escola, na rua, batiam à porta da sua casa, tentavam adicioná-lo às redes sociais, pagavam-lhe lanches e viagens nos carrinhos de choque. Não que o aborrecesse de todo ser popular: mas às vezes a situação tornava-se constrangedora, perto da sua família ou perto de alguma rapariga que realmente lhe despertasse a atenção.
Interessava-se por miúdas giras (era claro!), mas não bastava. Tinham de ter boas notas, ser discretas e possuir um pouquinho de pimenta: isto é, tinham de ter qualquer coisa de especial. Uma vez esteve apaixonado por uma rapariga que tocava bateria. Outra vez esteve apaixonado por uma que mantinha um blog. Normalmente essas miúdas tinham tendência para se afastar da sua popularidade, pois achavam-na sinónimo de tolice.
Foi por isso que, ao encontrar uma carta anónima no seu cacifo, a sua imaginação e vontade de investigação se ativaram: não seria uma tola qualquer para fazê-lo (até porque a carta estava bem escrita, com figuras de estilo e tudo), e muito menos uma miúda daquelas que gostam de dar nas vistas; a carta anónima era, precisamente, a prova da sua discrição.

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