Escrever para quê?

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Escrever para quê? É uma questão que me tem assaltado os últimos dias. Do mesmo modo que "partilhar para quê'" (partilhar coisas de escrita e de leitura nas redes sociais).

Quando reflito sobre a inutilidade de tudo isto cresce-me uma dor no peito. Não quero fazer coisas inúteis. Para isso mais vale não escrever, continuo com a minha vida das 8h às 17h, esqueço que gosto de escrever, inscrevo-me num partido político ou abraço uma causa social e nunca mais escrevo. Apago o blog, o facebook, o twitter, o goodreads... e depois... depois morro porque tenho de escrever. A minha vida não faz qualquer sentido se eu não escrever. E depois se escrevo, tenho de partilhar, não é? Porque se escrevemos é porque temos alguma coisa a dizer, e se dizemos é porque queremos que nos ouçam.

Contudo tudo perde sentido dado o estado da socidade actual. Escrever para quê? Escrever historiazinhas de amor para quê? Escrever fantasia para quê?
Temos ou não algo a dizer como deve de ser, adequado aos dias de hoje?

Bem, eu continuo a escrever historiazinhas de amor, de fantasia, etc, apesar de gostar de tender para o insólito. Mas se fosse só isso não valia a pena, pois não?

De vez em quando surge-me um grito que precisa de sair de mim em forma de ficção. Há mais de um ano saiu o conto O Soldado (submetido a uma revista neste momento), depois saiu O Regicídio (estou à espera da opinião do Luís Filipe Silva a quem gosto muito de aborrecer com este tipo de contos), há uns meses, não de forma tão natural como os outros, porque era para submeter a uma colectânea, surgiu-me Catalogação (e acabou por ser seleccionado para a colectâena "Livros" da Editora Estronho - Brasil). Este fim-de-semana surgiu-me A Casa (ou A Mansão, logo se vê) e ando de volta de um romance cujo primeiro capítulo se chama O Anarquista. São os textos que melhor me têm feito sentir ultimamente.

Mas só farão sentido quando começarem a ser lidos.

6 comentários:

  1. Escrever para quê?! Porque sim! Porque é vital e porque há ou haverá sempre quem leia o que escreve. Por exemplo, eu ainda não li nada seu, mas mais cedo ou mais tarde, fá-lo-ei, e atrás de mim, fá-lo-ão os que conheço. Nada de desânimos. O pessoal anda aflito a manter o emprego, a procurar por ele, a inventar-se espaços e ocupações várias, mas como tudo é cíclico, lá mais para a frente haverá tempo para pararmos e lermos mais e melhor. Um abraço.

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    1. A questão não é de todo escrever ou não dependende de ser ou não lida, mas sim que sentido tem escrever nos dias de hoje? A que temas me sinto obrigada/ atraída tendo em conta a conjuntura atual? Tudo o que faço fora disso será fútil? Não tenho a obrigação moral de reflectir sobre os dias de hoje?

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  2. O sentimento sob o qual não consigo escrever é exatamente esse, o da inutilidade. Assalta-me mais vezes do que devia, talvez por eu ser um bocado solitária, inclusive na internet. Mas sabes, nós não vamos conseguir deixar de escrever, pode ser um vício (e é) mas também porque quem escreve tem sempre em mente o leitor, e portanto a ilusão de que alguém vai receber o que partilhámos com tão boas intenções.

    Beijinhos

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    1. É um vício, só quero dar sentido a este vício.

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    2. «...o único sentido oculto das cousas
      É elas não terem sentido oculto nenhum»
      Alberto Caeiro.

      Cumprimentos do António Breda Carvalho

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  3. Escrever para quê? Criar para quê? Pensar para quê? Sentir para quê? Viver para quê? Quando todas essas perguntas são, na verdade, a mesma interrogação, a resposta é uma linha infinita entre a realidade e a ficção.

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