Assuntos de Escrita - Entrevista com Sofia Teixeira

 Sofia Teixeira é a autora do blog Morrighan e aceitou gentilmente ser entrevistada para a nossa rubrica, Assuntos de Escrita.

Assuntos de Escrita (AE) - No aniversário do teu blog resolveste realizar um evento. Como te surgiu essa ideia?Sofia Teixeira (ST) - A ideia de realizar um evento já vem de há muito tempo, o aniversário acabou apenas por ser a desculpa perfeita para o tornar numa realidade. Tenho em mente que apesar de ter pensado nisto várias vezes ao longo do último ano, a derradeira vontade que acabou por provocar o início da organização do evento tem origem no evento Não há feira, mas há escritores, realizado no Porto por causa da não realização da Feira do Livro do Porto. Fiz questão de fazer 300km, de estar presente e de contribuir com um texto para essa iniciativa. Quando cheguei à Avenida dos Aliados e vi todos aqueles autores unidos pela Literatura Nacional e pela cidade do Porto, algo em mim ficou igualmente agitado e disse para mim mesma que um dia iria ter um evento com autores portugueses em tom de agradecimento por tudo o que têm feito pela literatura nacional e também, aqueles que me são mais próximos, pelo blog Morrighan. Como desde Junho várias outras áreas foram sendo exploradas no blogue, principalmente no que toca à Música, acabei por ter a enorme vontade de conjugar estes elementos da cultura nacional num só espaço. Algo que reflectisse a filosofia do blogue desde o seu início, ou seja, a divulgação de autores e músico portugueses.

AE - Tenho uma vaga ideia que os bloggers portugueses não costumam realizar eventos. Conheces mais exemplos como o teu?
ST -
Não, não tenho. Pelo menos exemplos de bloggers cuja actividade é apenas um hobbie e totalmente não lucrativa como é o caso do Morrighan. Se alguém for exemplo disto e estiver a ler esta entrevista, por favor acuse-se e conte-nos a sua iniciativa!

AE - Que achas que se pode fazer para reverter a situação?
ST - Não sei se é algo que se deva reverter à força. Cada um tem que sentir que está preparado para sair de trás do ecrã e dar a cara pelo que faz. É preciso uma boa dose de coragem para nos expormos e ao nosso trabalho perante dezenas ou centenas de leitores. Sem dúvida que fazem faltas iniciativas de bloggers, até porque acho que muitas vezes são subvalorizados, mas antes de se dar o passo de organizar algo é necessário definir-se um objectivo, uma contribuição com esse evento. Eu quis, desta vez dando o peito às balas, reforçar a importância da cultura nacional, das redes sociais na sua divulgação e acima de tudo que é possível ir mais longe quando se gosta do que se faz. Trabalho a organizar um evento, vai dar sempre, mas acreditem que compensa. É terem ideias, colocá-las em prática e dar-lhes forma, vão adorar! Se precisarem de alguma coisa nesse sentido, estou sempre disponível para ajudar.

AE - Como foi a organização do evento?
ST - Um pesadelo! Estou a brincar... Foi uma experiência diferente, que deu muito trabalho, que me ocupou mais tempo do que tinha julgado que ia ocupar e que me deixou o sistema nervoso num caos. Foi preciso contactar parceiros, reunir com entidades, andar de um lado para o outro para ter tudo pronto e à imagem do que tinha imaginado. Desde o departamento de Cultura da FNAC para patrocinar os prémios dos vencedores do Concurso Thriller Fantástico, à Bertrand Livreiros para ter uma banca de venda de livros dos autores portugueses presentes, à Fábrica do Pão para ter uns miminhos no final do evento, etc. etc., todo este processo foi moroso, mas como comecei a organizar com quatro meses de antecedência, acabou por correr tudo bem. Afinal tivemos autores, músicos, participantes do concurso, livros, doces, salgados, café, chocolates e uma excelente disposição. Que mais poderia eu querer? Valeu tudo a pena. Sei que já agradeci mil vezes, mas agradeço mais uma a todas as pessoas que estiveram comigo nesse dia e que tanto me ajudaram e me transmitiram confiança.

AE - Houve muitas participações no evento?
ST - Houve as participações certas. Para mim não era tanto o número em si que importava, mas sim o que as pessoas que compareceram procuravam e acabaram por encontrar no evento. Ao todo estiveram presentes à volta de 70 pessoas, mais coisa menos coisa. Tinham-me dito que a lotação era de 80 pessoas e limitei as inscrições a esse número, mas afinal dava para 120 e acabei por ficar um bocado na dúvida se poderiam ter ido mais. Sei que houve pessoas que não foram porque só podiam confirmar no próprio dia e como eu tinha anunciado no dia antes que só faltavam 10 vagas, acabaram por não ir. Outras cancelaram na véspera por várias razões e outras apareceram de surpresa. O que é certo é que quem foi, foi impecável e aqueceu-me o coração ver tantos autores que admiro presentes e ainda ter os Les Crazy Coconuts directos de Leiria a representarem a música de forma única. Por mim. Pelo blogue. Pela literatura e cultura nacionais. Foi muito gratificante.

AE - O teu blog é muito mais que um blog que divulga livros. Que conselhos poderias dar a alguém que quisesse agora começar a fazer um blog literário?ST - Essa é uma pergunta curiosa. Eu faço o que faço porque tenho uma paixão enorme pelos livros, pela música, pela cultura no geral. Penso que o ingrediente fundamental para algo dar certo é a motivação, o gosto que se tem pelo que se faz. No caso específico de um blogue literário, o que posso desejar é que haja um interesse genuíno em divulgar obras, não só internacionais como nacionais. Que valorizem também os nossos autores, que não fiquem apenas pela leitura, mas que partam à procura da interacção com quem escreve, que experimentem, nem que seja uma única vez, ser um agente em campo e descobrirem um autor ou uma obra que se calhar poucos conhecem, mas que é excelente e ajudar a que essa obra seja percepcionada por ainda mais pessoas. Que sejam honestos consigo mesmo e com quem os lê, mas acima de tudo que se divirtam a fazê-lo.

AE - Já tens tido dissabores?
ST - Fizeram-me essa pergunta no evento e a resposta mantém-se. Claro que sim. Acima de tudo porque somos todos humanos e a certa altura há algo que inevitavelmente corre menos bem. O importante é aprender com esses dissabores, saber lidar com isso e aceitar que existirão sempre obstáculos, seja de que parte for. No fundo é isso que também dá aquele entusiasmo extra - sermos capazes de nos ultrapassar, de crescermos e ficarmos mais fortes.



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