Grãos de memória


 As férias eram uma penitência anual. Não gostava de praia, sol ou calor. Gostava de sombras de árvores, de regatos a correr, do cheiro da verdura. Ali, por muito que inspirasse, falhava-lhe o cheiro a maresia. Só lhe cheirava a gente, a tanta gente. O que gostava mesmo era de livros. Mas não os podia trazer porque não cabiam na mala de viagem. Só lhe restava fingir que construía castelos de areia. Enquanto o seu irmãozinho se debruçava na arquitetura ela imaginava histórias para cada grão. Eram histórias do Algarve antigo, histórias de mouras, soldados, piratas e caçadores de baleias.


Esta pequena narrativa foi publicada no nº 47 da revista digital Incomunidade, como podem verificar pelo link, em julho de 2016.

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