Descobrir o Desconhecido

Ilustração de Rui Alex

O demónio vivia numa floresta densa e escura que, para ele, era o mundo, pois não conhecia mais nada. Não sabia o som de uma cascata, não sabia o calor do sol sobre a pele, não sabia a luz da lua, a brisa nocturna, os pirilampos veraneios. Não sabia o que era uma flor, ou um pássaro. Não sabia o que era uma mulher.
O demónio levou anos em curiosidade sobre o que haveria para além da floresta. Ao contrário dos outros demónios, a densidade e a escuridão da floresta não lhe chegava.
No dia em que decidiu ultrapassar a orla da floresta viu algo que nunca poderia imaginar. Tinha pernas, braços e cabeça semelhante à dele. Mas em vez dos seus chifres tinha uma cascata de cabelos negros que descia, sedosa, até ao rabo. Em vez da carne musculada e vermelha tinha uma pele dourada e membros roliços. No peito havia duas elevações piramidais das quais não conseguia tirar os olhos. Aquele ser tinha uma expressão assustada e violenta ao mesmo tempo, mas os seus olhos e os seus lábios era algo que lhe apetecia lamber como ao mais doce fruto da floresta. Empenhava uma arma, e parecia decidida a matá-lo, mas não sabia que, antes sequer de atirar a lança, o demónio, rápido, a podia destruir. Ele sentia o pénis inchado e duro. Nunca o tinha sentido, nem sabia o que era aquilo, mas sabia que era bom. Não a poderia deixar atirar a lança, não se queria defender dela e destruí-la. Pegou na primeira coisa que viu para lhe oferecer. Era uma folha. Sabia que aquilo não tinha encanto nenhum. Mas era a sua tentativa de lhe dizer que, por ela, se tinha tornado pacífico.

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