O vôo do Moscardo

Fotografia de Carina Portugal

A aranha subia um móvel de uma casa pronta a fazer a sua teia e tudo aquilo que se pede de uma aranha. Não sabia, por aranha ser, que aquele móvel daquela casa albergava um aparelho de ouvir música, e que aquela música que um humano tinha ordenado tocar era parte de uma ópera de Nikolai Rimsky-Korsakov. Sorte a da aranha, não por não saber nada disto, mas pelo humano não a ter visto, pois nesse momento a sua vida teria perecido e não teriam tido lugar as sensações que a música lhe haveria ditado.
Enquanto a música tocava ela já não era uma aranha. Também não era bem uma mosca. Era uma pessoa, a quem lhe cresceram asas. Deixou de se alimentar como as pessoas e a cada momento diminuía de tamanho. Quanto mais pequena mais rápida ficava, até que a sua família se fartou de tudo aquilo e a fechou numa arrecadação. Mas ainda pensava como uma pessoa.
A música terminou. A aranha continuou a subir o móvel, até que o humano a visse. Nunca saberia que um dia escreveram uma história muito parecida com aquela.

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